domingo, 19 de abril de 2015

Uma aventura em duas rodas part.5

Retomando a série, chegamos finalmente ao capítulo final. A chuva deu uma trégua e só voltou a incomodar outra vez no final da volta, perto de casa. Já se aproximando do anoitecer do segundo dia de viagem, antes de deixar a ilha de Enoshima passamos por um dos pontos mais famosos do local: o morro dos namorados (também conhecido como "Love Bell" ou "Ryuuren no Kane"). O sino fica isolado no alto do morro no lado sul da ilha, só acessível por umas trilhas de terra no meio da mata. Lembram da lenda da Benzaiten com o dragão? Pois baseados naquela história, criaram esse mirante 'abençoado' onde os casais escrevem seus nomes em cadeados e fixam nas cercas do local. Após fazer isso, o casal deve tocar o sino para garantir uma relação duradoura. Na saída, voltamos dessa vez pela entrada principal, só para descobrir que haviam escadas rolantes e não precisaríamos ter encarado a longa escadaria para chegar nos templos. u___u Tarde demais. Nessa trilha ficam os enormes portões do Enoshima Jinja. Chegando na parte baixa da ilha, na ruazinha principal cheia de lojas e restaurantes, paramos no tal Shonan Burger para comer. É uma espécie de variação do McDonald's, com sanduíches só de peixe e utilizando ingredientes da culinária local. Interessante. Até a cantora Misono já passou por ali, então ruim não pode ser né. ;D Voltamos para o hotel admirando as luzes azuladas do farol e bem cedo no dia seguinte já estávamos na estrada. O primeiro trecho da volta era de Hiratsuka até Kamakura, mais de 20 quilômetros contornando as praias da região. No trecho novo, a leste de Enoshima, notamos uma paisagem ligeiramente diferente. Faixa de areia bem mais curta ou até inexistente, com a estrada e a linha de trem seguindo expremidos ao lado do mar. Meu amigo é noveleiro e disse que aquele cenário bucólico é bastante comum em doramas. Kamakura hoje é uma pequena cidade de 170 mil habitantes que vivem de turismo e pesca basicamente. A cidade, por ter sido a capital do Japão durante o período Kamakura, é repleta de templos e locais históricos. Não tínhamos tempo para uma visita mais aprofundada pela cidade, então fomos apenas ao ponto turístico mais famoso: o templo budista Kotoku-in.


Dentro desse grande espaço, nem todo aberto à visitação neste dia, fica o Kamakura Daibutsu, uma estátua icônica de bronze feita em referência ao Buda Amida. Com mais de 13 metros de altura e 120 toneladas, é uma das mais famosas e visitadas estátuas do país, datando do início do Século XIII. Por estar sentado, ele não chega perto da grandiosidade do Ushiku Daibutsu, porém. Dá pra entrar nele, mas eu não o fiz. No bosque em volta, placas avisavam para a presença de esquilos, mas não avistei nenhum. Apesar da hora (cedo), já tinha bastante gente por ali, inclusive estrangeiros. De volta à estrada, encaramos pela frente vários trechos de muitos morros e túneis. Sem grandes atrativos para fotografar ou mesmo visitar. Procurei montar um itinerário diferente na volta, para não passarmos pelas mesmas cidades e estradas. Mas ficou difícil de encontrar pontos interessantes próximos do trajeto, então a segunda parada foi mesmo numa loja de eletrônicos Bic Camera, ao lado da estação principal de Fujisawa. Esse trecho foi meio que um retorno para mais próximo de Enoshima e feito em área urbana. A parada seguinte, já cruzando áreas rurais pelo caminho, foi na pequena estação de trem Chogo. Ainda no município de Fujisawa, a estação foi aberta em 1929 e atende a linha Odakyu Enoshima (que viria a ser o caminho mais fácil de trem, partindo de Tokyo, para se chegar ao balneário). A quarta parada já foi num local mais interessante, o Izumi no Mori Kouen, na cidade de Yamato. Sim, uma cidade com o nome da minha família. =D Com cerca de 230 mil habitantes, é uma das cidades mais antigas da região e abriga a maior base militar americana no Pacífico, a base aérea e naval Atsugi.


O Izumi no Mori, também conhecido como bosque Shirakashi, é um dois maiores parques da região. Com uma área verde de 42 hectares, ele foi criado em 1982 e engloba vários lagos, área de camping, pesqueiro e jardim botânico. A parada seguinte voltou a ser numa pequena estação de trem, já dentro da província de Tokyo. A estação Naruse (com os mesmos kanjis do nome da Eitaso do Denpa Gumi.inc =P ) foi aberta em 1979 e atende a linha Yokohama. Foi curioso que um velho, simpático, se aproximou e puxou papo para saber o que estávamos fazendo, indo de onde para onde... e até deu umas dicas de trajeto. Mas não foi o único idoso que se interessou pelos forasteiros ciclistas ao longo da aventura. =) Noto que esse pessoal do interior é bem mais amigável que o povo das grandes cidades. Essa estação fica na cidade de Machida e acabamos cruzando, sem querer, com uma casa de shows que eu viria a visitar meses depois. Coincidências da vida. A sexta parada, após um duro e montanhoso trecho, foi no Tama Chuo Kouen, um parque de quase 100 mil metros quadrados inaugurado em 1990 no centro da cidade de Tama. Com ligação direta a um grande centro comercial e residencial, ele me lembrou o Ibirapuera em São Paulo, com lagos, gramados e pistas para caminhada. Abriga o Parthenon Tama, um centro cultural com museu e galerias de exposições. Além da histórica residência Tomizawa, onde morava o governante da antiga província Musashi (que não existe mais), durante o período Edo.


Ali perto fica o Sanrio Puroland, um parque indoor dedicado a personagens da marca (lembram do Parque da Mônica em São Paulo?), com destaque claro para a Hello Kitty. Aberto em 1990, atrai muitos visitantes, especialmente famílias. Mas como eu não sou a Yuffie, só passei pelo lado de fora mesmo. =P No trecho seguinte, totalmente urbano, chuzamos o Rio Tama até chegar, já de noite, na estação de trem Fuchu. No centro da cidade de mesmo nome, ela foi aberta em 1916 e atende a linha Keio, que liga Shinjuku a Hachioji. Por ali tem largas e arborizadas avenidas que abrigam um dos maiores matsuri da província. Algum dia ainda retornarei ao local pra apresentar melhor por aqui, pois merece. A última parada antes do destino final (lar doce lar) foi a mais inusitada da aventura. Um cemitério. ^__^' De noite. Apesar do leitor provavelmente achar que isso foi planejado, não, não foi. Eu realmente li errado os kanjis na hora que estava montando o itinerário e estava crente de que se tratava de um parque (kouen) e não um cemitério (reien). Mas logo deu pra perceber que eu tinha me enganado, ao entrar e encontrar tudo vazio e escuro. O Kodaira Reien foi aberto em 1948 e conta com mais de 40 mil túmulos em 650 mil metros quadrados. Já estávamos próximos de casa, mas o trecho final foi complicado por causa da noite e da garoa. Só pra começar, foi difícil achar a saída do cemitério, uma vez que não estávamos vendo nada e os caminhos não apareciam no GPS. ^__^' Acabamos rodando bastante lá dentro, sem avistar nenhum fantasma. O que acabamos nos deparando foi com um grupo de pirralhos, certamente procurando fazer kimodameshi. (um 'teste de coragem' quando os jovens vão a locais assustadores) E avistamos ainda, de longe, o que parecia ser um casal fazendo sexo. .___. Não deu pra identificar direito, mas pareciam estar parcialmente vestidos e se equilibrando em cima de uma tumba. ... ... ... Pois é, talvez não estivessem exatamente transando. Nem fossem um casal. Ou mesmo humanos. Enfim, melhor deixar pra lá. ^__^'


Chegamos na minha casa já por volta de umas dez horas da noite, cansados, imundos e com fome. Mas valeu a pena, foi uma experiência e tanto. Já estamos até planejando repetir a dose este ano, pedalando para algum lugar ainda mais distante e desafiador. =D Aguardem os próximos capítulos dessa trama. Por hora, voltemos à programação normal do blog...

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